Revista AU edição 237, dezembro/2013

SALINAS E FREITAS ARQUITETOS ASSOCIADOS 

participa de

Debate sobre argamassa industrializada para fachada

(por Maryana Giribola)

Gargalos de evolução

Enquanto a industrialização pede mecanização do processo, a realidade esbarra com falta de especialização

Revista AU 12_2013 Robertto Freitas Revista AU 12_2013 Alexandre Tomazeli Revista AU 12_2013 Eduardo Lamana Revista AU 12_2013 Mercia Bottura Revista AU 12_2013 Francisco Lessa
O mercado ainda carece de algum tipo de produto?

ROBERTTO FREITAS: Do ponto de vista técnico, não. O que talvez falte é uma ligação mais emocional entre o consumidor final e o produto adquirido. Estamos caminhando para isso porque, pouco a pouco, as pessoas têm ficado mais críticas. Nesse sentido, vejo que ainda faltam alguns materiais, mas eles devem surgir em função de uma demanda mais crítica. Boa parte desse caminho depende também do consumidor final.

Como vêm evoluindo as argamassas para revestimento externo nos últimos anos?

FRANCISCO LESSA: Temos uma demanda maior pela argamassa básica industrializada, tanto que estamos produzindo o revestimento em todas as nossas fábricas. Mas de um ano para cá, o mercado estacionou um pouco em termos de desenvolvimento de novas tecnologias pela falta de demanda.
MERCIA MARIA BOTTURA DE BARROS: A indústria tem desenvolvido argamassas mais dedicadas, específicas para condições ambientais de diversas regiões. Mas não é uma evolução considerável porque ainda enfrentamos um gargalo na mecanização desse processo, o que trava o desenvolvimento de novas argamassas industrializadas.

Por quê? Quais são as dificuldades de trabalhar com sistemas projetados?

FRANCISCO: O mercado não anda e não cresce na projeção porque não há equipamentos específicos para isso. Quem vai quebrar esse paradigma? Acredito que seja muito mais um nicho de quem fabrica equipamento. A cremalheira é uma opção, mas é muito cara. Com isso, termina-se optando pelo método de aplicação convencional.
MERCIA: Quando falamos de revestimento argamassado, sempre falamos das construtoras. Mas, na verdade, a construtora está na mão do empreiteiro e conseguir uma empresa especializada em revestimento de fachadas é difícil.
EDUARDO LAMANA: Uma das principais barreiras é que toda a logística necessária para a projeção contínua ainda não está enraizada nas construtoras e nos aplicadores. Essas dificuldades acabam sendo repassadas para o preço. Enquanto, na ponta do lápis, as fachadas feitas com argamassa projetada deveriam sair mais baratas para os aplicadores, acabam ficando mais caras.
MERCIA: Só conseguiríamos quebrar esse paradigma se houvesse empresas especializadas na produção de revestimentos. Essa empresa deveria se responsabilizar pelo projeto, pela definição da argamassa que vai usar e pelo método de aplicação.

A demanda por argamassa industrializada tem aumentado entre os projetos?

MERCIA: Temos indícios de que muitas empresas vêm abrindo mão da argamassa virada em obra pela necessidade de velocidade da obra e pela dificuldade de abastecimento do material a granel em determinadas zonas da cidade. Do ponto de vista organizacional, acredito que muitas empresas estão evoluindo no processo porque elas entenderam que só racionalizando vão conseguir redução de custo e menor desperdício.
ALEXANDRE TOMAZELI: E agora existe a norma de desempenho para ser atendida. E, para isso, é preciso desenvolver um projeto de fachadas que envolva não somente entregar um papel, mas fazer estudos que venham desde a fase da estrutura, a fim de minimizar falhas que venham de base. Também é importante fazer painéis protótipos, assim como se faz corpos de prova com o concreto.

A norma de desempenho afeta a etapa de revestimento em fachadas?

MERCIA: O foco dessa norma é o sistema de vedação, e o revestimento é uma parte dele. Acontece que na NBR 13.281:2005 – Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – Requisitos, já havia um parâmetro importante: o da resistência de aderência, que vinha balizando muita coisa. No caso específico do revestimento, o impacto da norma é menor, mas agora as empresas vão precisar evidenciar que estão seguindo os requisitos e melhorar a rastreabilidade dos seus procedimentos como um todo.

Revestir as fachadas com argamassa é um contrassenso à necessidade de industrialização das obras?

EDUARDO: Comparando aos pré- -moldados, sim, porque são sistemas que evitam a argamassa. Mas o processo se torna mais industrializado a partir do momento em que se opta pela mecanização da aplicação.

Como evitar esses problemas de trincas e fissuras nas fachadas?

ALEXANDRE: A maioria das falhas que ocorrem vêm de base, porque não houve um projeto de revestimento. Sem contar que não adianta a argamassa estar boa, o processo excelente, se não há treinamento de mão de obra.
ROBERTTO FREITAS: Tendo em vista que o que nos interessa é a durabilidade da nossa arquitetura, sempre pensamos o volume em segmentos modulares, paginados e em planos diferentes, de modo que em determinados pontos da fachada consigamos recolher a água para evitar infiltrações. Além disso, projetamos o revestimento em argamassa sempre em um pano abaixo de uma aba com um tratamento mais benfeito, que pode ser um rufo de alumínio, uma pedra aplicada na aba ou uma aba de concreto moldada in loco com aditivos mais resistentes ao sol, que mantenham a estanqueidade por mais tempo. Sempre evitamos trabalhar com a argamassa branca para revestimento, mas onde não há solução, preferimos especificar a argamassa tipo fulget, porque a mão de obra para a execução é mais bem preparada.

A utilização da argamassa monocamada tem crescido?

FRANCISCO: Não como gostaríamos, mas tem. E tem crescido também a amostragem de clientes que já se conscientizam com projeto e com detalhes de proteção.
MERCIA: A grande dificuldade de usar a monocamada decorativa sobre uma estrutura é que geralmente ela é composta por concreto e vedações em alvenaria, e nesses casos os encontros não são homogêneos. Esse tipo de revestimento acabou crescendo entre as especificações porque encontrou um nicho na alvenaria estrutural. Sem contar que a mão de obra a ser utilizada nesse tipo de produção é mais qualificada.
ROBERTTO FREITAS: Especifiquei monocapa no último residencial que fiz e os incorporadores não quiseram. O consumidor final não procura qualidade. Logo, se o cliente não é exigente, o incorporador não vai estabelecer uma busca por competição.

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